Quatro dias navegando sobre águas que borbulham.
Navegação lenta, silenciosa, em círculos incertos.
Movimentos bêbados desenham figuras dançantes na tela que se
estende engolindo cores. Hipnotizam. Arrastam. Deslizam.
Navegação sobre águas doentes. O silêncio dessas águas abafa
as súplicas.
Por favor, mais silêncio. Escutem as bolhas.
As últimas.
É dos incautos do caminho e são muitos!
Se todos calarem ouviremos a mortal composição sinfônica dos
que jazem. É o gemido dos olhos esbugalhados, da boca aberta, pasma, caída,
quebrada, cheia de lama.
Você também pode ver, se olhar.
Comeram lama.
Na sofreguidão mágica da ausência de sentido comeram lama. Com
os olhos, com os ouvidos, com os dedos grudados no nada, com o umbigo, com a
boca comeram lama. Lama que fortalece porque é de ferro e de outras elegâncias
brutas. Brutalidades.
Era água, agora é lama que mata a sede, a fome, desejos,
sonhos.
Lamaçal que preenche as entranhas vazias dos corpos formando
esculturas tesas de uma só cor.
Não estão sós na cova comum.
Há, em trajes de pelos, escamas e outras modas, a inocência
de delicados animais.
Bailam inertes, submersas nos redemoinhos desse mar.
Navegar.