Vai
Porque agora quero ficar só.
É que sinto falta de mim.
Careço de silêncio e espaços vazios quando sinto falta de mim.
Sei que estou cheia, grávida.
Excedo e transbordo.
Por isso suplico que vás.
Preciso olhar-me.
Há cantos da minha existência estreitos e obscuros que quero acariciar.
Por isso... Vai.
Quero cortar frutas, legumes, tomates vermelhos.
Cortar cebolas e chorar.
Misturar-me com sangue de tomates e seiva de cebolas brancas.
Vai
Há, lá fora, folhas secas no chão e pássaros tristes.
Todos esperam.
Vou colher ervas. Oferecer-me chás. Sentar em varandas e meditar.
Vai.
Porque há livros abertos e um poema que iniciei.
Há mandalas interrompidas.
Coisas fora do lugar.
Preciso fazer sobrancelhas e as unhas dos pés.
Quero ocupar-me com um ar só meu para nele bailar.
Por isso... Vai.
Preciso de um pouco de tristeza e com ela mergulhar por lugares sombrios.
Lugares onde só entra um e a sua solidão.
Quando te peço que vás... entendas.
O lugar onde quero ficar não te cabe.
E não cabe o teu amor.
Só por um tempo... preciso que tu vás.
Nenhum comentário:
Postar um comentário