Pelas
frestas da saia rota vejo o teu retrato.
Em
pose para foto, acaricia, faceira, um galho da planta suspensa.
Mesmo
você, tão dada às coisas simples, fez que era modelo de revista.
Mas
o sorriso ficou preso em algum lugar doído do passado.
Desculpe
mãe, pela dor que causei.
Minha
irmã disse que você era feliz e que até dançava.
Memória
de irmã mais velha que não sabe o que é ser irmã caçula.
Disse,
ainda, que você sonhava.
E
cantava.
Cantava
músicas de adubar canteiros e de abrir misteriosas trilhas.
Desculpe
mãe, não lembro da tua felicidade.
Mas
lembro do cheiro da saia passando para ir e para vir.
Num
encantamento que me levava para ver de perto o vigor do dia.
Eu
quis inventar diferentes caminhos e você disse:
(Não
lembro, mamãe, o que você disse.)
Do
retrato vejo-a sair para o labor que jamais acaba.
Por
onde passa vai deixando sulcos profundos dos passos cansados.
Acompanho
nesses rastros a família grande e o suor da caminhada.
Confusa,
outra vez, não lembro se te conheci.
Mas
fico aqui olhando esse retrato porque sinto o cheiro da saia rota.
Ao
longe escuto o barulho dos silêncios que cercaram os teus dias.
Agora
eu sei, mamãe. Só agora!
Por
que você fez de mim, o homem da casa.