No quintal da
casa havia um açude.
São tão fortes
as lembranças da infância!
Fortes e
perenes como sombras.
Assim era:
Dois pés de
mangas e um de cajás cresceram junto às águas.
Desse último
caíam lagartas gordas. Ploft!
Horror de
menina que tem medo de lagarta.
Ploft... Ainda
escuto.
Depois rolavam
vivas, para nadar nos anéis do açude.
Eu cantarolava
em disfarces para ninguém saber daquele medo.
Os adultos são
cruéis.
Infância de
boca lambuzada com manga e o amargor sonoro das cajás.
Amarelinhas!
Naquele quintal
eram muitas estações ao mesmo tempo, cada uma com o seus encantos e medos.
A das goiabas durava
o ano todo.
As galinhas
dormiam nos galhos da goiabeira.
Goiaba com
gosto de cocô de galinha servido no café da manhã.
“Não inventa
menina.”
“Vai catar pequi
que deve ter caído de bom com a chuva da noite.”
Pata na frente,
patinhos atrás deixavam suaves ondas na água turva do açude.
Contemplação!
Em algum canto
da borda os sapos ficavam.
Escondidos.
Eu sabia.
À noite enchiam
o silêncio com a melancolia cadenciada de suas cantigas.
Tendo pouco a
dizer, os que falam se calavam em meditação.
Carros (poucos,
muito poucos) passavam na piçarra e deixavam sapos encantados com as tripas pra
fora.
Minha cunhada
conta que quando a luz elétrica chegou muitos sapos se perderam de encantamento
mirando os postes.
E os galos
começavam a cantar qualquer hora da noite. Atordoados com a luz.
(É minha
cunhada quem conta.)
Agora precisamos
de uma cerca nova.
Mas há um açude
no meio.
Alguém falou
que só precisa fazer a cerca até onde o papai tomava banho.
É a cerca que traz essas lembranças.
Como vou saber
onde papai tomava banho?
Já faz tanto tempo...